sábado, 6 de julho de 2013

AMAR "DEMAIS" - Marcos Meier do livro Sapatos e letras

    Em nome do amor grandes besteiras são feitas. Há pessoas que abdicam dos seus sonhos para viver a vida de outra. Pais que deixam de lado a colocação de limites e regras em nome de uma interação mais tranquila, sem desgastes emocionais provocados pelo exercício da autoridade paterna. Namoradas que abandonam estudos, trabalho e família para mudar de cidade e morar com o "homem de suas vidas" investindo todas as fichas no relacionamento. Filhos, que por amor ao pai ou à mãe, vão deixando de viver suas próprias vidas para cuidar deles, agora idosos e dependentes.

     Todos esses exemplos são justificados com a simplicidade da frase "eu amo demais". No entanto, em todos esses casos há uma grande possibilidade de alguém ficar muito decepcionado e, normalmente, é a pessoa que ama demais.

     Precisamos aprender a dar valor à nossa própria realização como pessoas, como profissionais, como seres humanos que amam e que desejam ser amados. Não é questão de ser egoísta, mas de começar a amar o outro por meio de nós mesmos. Quem não se ama, quem não se dá valor, quem não realiza seus próprios sonhos e desejos, acaba se despersonalizando, desaparecendo na sombra de outras pessoas. É somente a partir de nós mesmos que podemos amar o outro. Fred afirma que o escravo renuncia ao próprio gozo para inscrever-se no desejo do outro. Deixando de lado as inúmeras interpretações possíveis, creio que a essência pode ser extraída: perde a liberdade e, portanto, a alegria da própria existência, aquele que vive para a realização do desejo das outras pessoas exclusivamente.

     Assim, está na hora de aprendermos a dizer não. Aprendermos a lutar pelos "sim" que gostaríamos de receber na vida. Muitas vezes, pela dificuldade de dizer "não", uma pessoa acaba assumindo compromissos demais, responsabilidades demais, enquanto seus colegas mais próximos poderiam co-participar das cargas. E a consequência logo vem em tom de crítica por todos aqueles que esperavam maior qualidade ou maior agilidade na execução de uma tarefa. A culpa cai sobre essa mesma pessoa.

     Podemos e devemos ser solidários, altruístas e de "bom coração". No entanto, isso não significa que devemos desistir de nós mesmos. Muito pelo contrário. Quando nos valorizamos, achamos o caminho para continuar a agir.

     Na chácara de meu pai havia três mudas de pinheiro que ele mesmo plantou. Duas estão enormes, vigorosas, fortes e bonitas. A terceira estava sob a sombra de outras árvores. Morreu.

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